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A economia de cana-de-açúcar no século XIX: Catu uma promessa que não se cumpriu

19-12-2011 01:12

 

Há alguns anos venho defendendo que a região de Catu foi, no segundo quartel do século XIX, uma promessa no ciclo da cana-de-açúcar baiano, por se tratar de uma região distante da capital, de certa forma, ainda inexplorada com solo e clima propicio para o cultivo dessa doce riqueza. Esse argumento para mim justifica o enorme crescimento de escravos na região nesse período. Estamos falando de um momento rapidamente anterior à aprovação das leis emancipacionistas que levaram ao fim da escravidão no Brasil. O fato era que, ao que tudo indica, a região era promissora e fora, talvez por isso, contemplada com uma estação a Leste Brasileira, ferrovia construída para facilitar o escoamento da produção agrícola e o transporte de pessoas e informações.


Entretanto, uma olhada sobre a planta topográfica do município, produzida em 1888 pelo engenheiro Nemésio Quintino Menezes, nos mostra que essas previsões não se confirmaram. O mapa mostra que nesse ano cerca de 60% de um total de 56 engenhos estavam extintos ou de fogo morto. Isso sem contar que o engenheiro na legenda do mapa menciona que “boa parte das propriedades estão em partilha entre herdeiros ou à venda”. Isso significa que mais da metade das unidades produtoras canavieiras catuenses deixaram de produzir antes da abolição. As fontes indicam que a extinção final mão-de-obra cativa, se comprometeu, foi apenas como um golpe final a inerte elite econômica local.

Os senhores não foram capazes de organizar a mão-de-obra livre para as suas lavouras em tempo hábil. Só lembrar que, em 1887, a freguesia de Santana do Catu detinha um plantel de 1.300 escravos um dos maiores da província da Bahia. Isso por si só nos pode levar a uma reflexão de que as elites locais, assim como as estaduais, não estavam muito preocupadas com a transição para a mão-de-obra livre.

Além disso, nossa classe dirigente não se adaptou aos novos tempos com tecnologia agrícola capaz de torná-la competidora do açúcar de beterraba produzida nas Antilhas Britânicas. Não modernizou suas fábricas de beneficiamento, inaugurando apenas um engenho central em Pojuca, quando já era tarde mais para salvar a economia de cana. Assim como os demais senhores de engenho baianos assistiram a sua própria derrocada sem muita coisa, ou nada fazer.

Pode-se afirmar, portanto, que nesse momento, Catu foi uma promessa que não se confirmou, pois anos depois da abolição, a decadência econômica dominava esse lugar. Foi uma chance perdida para o nosso povo e para seus dirigentes de desenvolver uma cidade que, tivesse aproveitado essa chance, hoje fosse mais desenvolvida do que a sua co-irmã a cidade de Alagoinhas, por exemplo. Restaram apenas as lamentações, a nostalgia de uma elite em declínio, cujas lamúrias eu estudei em obra publicada recentemente.

1. Refiro-me a Lei Eusébio de Queiroz (1850), a Lei do Ventre Livre (1871) e a Lei dos Sexagenários (1885).
2. MENEZES. Nemésio Quintino de. Planta topográfica da freguesia e município de Santana do Catu da Comarca de Alagoinhas. Manuscrito, 1888. (Disponível na Mapoteca da Biblioteca Nacional, RJ).
3. O termo é utilizado para o engenho que teve plantação de cana, mas não beneficiou essa produção e, conseqüentemente, não lucrou com a sua venda.
4. Alagoinhense, “Nova Matrícula”, 17 de fevereiro de 1887. Disponível no APEB, seção Jornais Raros.

5. OLIVEIRA. Marcelo Souza. Uma Senhora de Engenho no Mundo das Letras: o declínio senhorial na obra de Anna Ribeiro. EDUNEB, Salvador: 2009.

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