Pesquisando o passado, discutindo o futuro!


Segundo passo: levantamento e inventário das fontes

18-12-2011 16:42

“Fonte Histórica” é tudo aquilo que, produzido pelo homem ou trazendo vestígios de sua interferência, pode nos proporcionar um acesso à compreensão do passado humano. Neste sentido, são fontes históricas tanto os já tradicionais documentos textuais (crônicas, memórias, registros cartoriais, processos criminais, cartas legislativas, obras de literatura, correspondências públicas e privadas e tantos mais) como também quaisquer outros que possam nos fornecer um testemunho ou um discurso proveniente do passado humano, da realidade um dia vivida e que se apresenta como relevante para o Presente do historiador. 

A fonte histórica é aquilo que coloca o historiador diretamente em contato com o seu problema. Ela é precisamente o material através do qual o historiador examina ou analisa uma sociedade humana no tempo, ou um processo histórico na dinâmica do seu devir. Uma fonte pode preencher uma das duas funções acima explicitadas: ou ela é o meio de acesso àqueles fatos históricos que o historiador deverá reconstruir e interpretar (fonte histórica = fonte de informações sobre o passado), ou ela mesma ... é o próprio fato histórico. Vale dizer, neste último caso considera-se que o texto que se está tomando naquele momento como fonte é já aquilo que deve ser analisado, enquanto discurso de época a ser decifrado, a ser compreendido, a ser questionado. É neste sentido que diremos que a fonte pode ser vista como ‘testemunho’ de uma época e como ‘discurso’ produzido em uma época (BARROS, 2011).

Tentemos uma síntese. Tomaremos como ponto de partida o texto autoral, isto é, o texto que apresenta um autor definido (mesmo que anônimo), ao contrário do documento que é produzido institucionalmente como massa de dados (uma lista censitária, ou os documentos do fisco), ou que se produz involuntariamente, tal como os objetos que se perdem e depois são reencontrados na pesquisas arqueológicas. Quando o historiador está diante de um texto que foi produzido por alguém, a primeira pergunta que costuma vir à sua cabeça é a que busca o autor. Quem escreveu este texto? O que pensava? Que intenções tinha no momento em que o escreveu? Fez de livre ou espontânea vontade, ou sob pressão? A quem visava? 

Organizemos isso. Quando perguntamos "quem é o autor", podemos pensar em um indivíduo específico. Contudo, cedo aprendem os historiadores em formação que os indivíduos não se encontram soltos no tempo, desgarrados de uma sociedade, independentes dela. Se podemos nos perguntar pela 'Autoria', logo também deveremos nos perguntar pelo 'Contexto' que constrange ou libere esta autoria.

O Contexto corresponde a uma época, e também a uma sociedade que envolve um autor. Dificilmente um homem pode escapar aos limites impostos pelo seu tempo, e aos horizontes de percepção que lhe são franqueados a partir de sua época e da sociedade em que vive. Muitos dirão que, em hipótese alguma, um autor não pode escapar ao seu tempo. De um modo ou de outro, é nas águas de um Contexto que um Autor emerge: nelas ele se apoia, e contra elas ele se debate. Assim, a fonte é o ponto de contato que temo com determinada sociedade e com um determinado tempo passado. No entanto, a fontes precisa ser interrogada. Ela deve ser questionada. E esta a função do historiador: reconstruir o passado através da indagação e da interpretação das respostas deixadas pelos seus vestígios - as fontes históricas.

Uma infinidade de registros apresenta-se disponível atualmente para o trabalho do historiador. Cada vez mais acessíveis, as informações sobre um determinado tema provêm das mais diversas origens: jornais, revistas, livros, noticiários de rádio e TV, filmes, documentários, oralidade, processos criminais, cartas, diários, fotografias e tantas outras. É só a partir do levantamento dessas fontes que se deve ELEGER UMA QUESTÃO DE PESQUISA, e a partir daí retornar as fontes selecionando as que tratem do assunto de forma mais rica. A partir daí deve-se contextualizar, interpretar e construir uma ou mais versões desse tema. 

Partindo desses pressupostos, fica claro que, para iniciar uma pesquisa histórica alguns passos essenciais devem ser dados, como estamos tentando enunciar aqui. E nesse texto queremos lançar mão do levantamento das fontes históricas, pois sem essas uma pesquisa nunca irá vingar. 

Dica: construr um catálogo das suas fontes. Faça um inventário sobre o que você tem disponível. Isso pode ser feito através da identificação do tipo de fonte, autor, época de produção da fonte, resumo básico e local ou origem dessa fonte.

 

BARROS, José D'Assunção. O Campo da História. Petrópolis: Editora Vozes, 2011, 8a edição. p.134-140.

SAMARA, Eni de Mesquista. História & Documento  e metodologia de pesquisa. 2ªed. Belo Horizonte, Autêntica, 2010. pp. 67-69.

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