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Terceiro Passo: Construindo um problema/objeto de pesquisa

18-12-2011 17:18

As fontes nos são importantes em todas as etapas da pesquisa. Num primeiro momento elas podem nos indicar quais as potencialidades de pesquisa no que fiz respeito aos temas. Cito exemplo: um diário de uma adolescente que viveu no final da década de 1930 pode ser uma fonte preciosa para se discutir o imaginário feminino naquele período. Essa fonte pode se constituir numa porta de entrada para discutir questões de gênero no início da Era Vargas. Imaginemos que esse mesmo diário pertence a uma jovem moça estudante da escola normal de uma cidade do interior da Bahia. O estudo que proposto a partir de fontes como essas ganharia outras possibilidades temáticas: estudo das profissões atribuídas às mulheres, ou as formas de educar naquele período, as questões de classe, uma vez que normalmente essas moças eram filhas de famílias tradicionais, etc.  

Sendo assim, após o levantamento preliminar das fontes, o próximo passo do pesquisador deverá ser eleger o tema e constituir o problema de pesquisa. O problema é frequentemente construído a partir de uma hipótese. Cito um exemplo: digamos que a fonte em questão é a Revista do centenário do Município de Catu, publicado em 1969. Após a leitura do texto, o primeiro passo é indagar as intenções dos autores. Porque publicar uma revista de "aniversário do município"? Essa decisão pode ter sido tomada ingenuamente? Como saber a resposta para essa pergunta? Simples, basta consultar a fonte. A Revista do centenário exprime em suas páginas que Catu seria uma cidade próspera, pronta para o Progresso. A quem interessa passar essa imagem? Talvez àqueles que intentam vender a imagem de que a cidade em seu poder "achou os rumos do Progresso". O processo de questionamento e de indagação é que se chama frequentemente de problematização que o devemos estabelecer frente ao objeto em busca construção de uma história problema, ou seja, que busca indagar sobre a realidade histórica e social.

Bom, não é preciso afirmar que mais e mais questões e perguntas podem surgir de outras leituras dessa revista. Mas uma parece ser essecial. Trata-se da questão de pesquisa. Voltemos ao exemplo da Revista do Centenário do Município de Catu. Uma questão de pesquisa interessante seria indagar se a versão de uma cidade "próspera" veículada pela revista condiz com o que os cidadãos catuenses do período viveu de fato. Assim, o problema estaria em torno entre as representações da cidade veículadas na dita revista e a realidade social do município no momento.

Teríamos ai chamado o recorte temático: política e sociedade. Restaría delimitar mais outros dois recortes fundamentais para uma pesquisa histórica: recorte temporal e espacial. O recorte espacial, ainda com base no exemplo citado, seria o município de Catu e o recorte temporal, certamente iria observar o período de produção da fonte. Nesse caso, a década de 1970. Temos então que pontuar três recortes essenciais para a pesquisa histórica: 1 - Temático; 2 - Espacial; 3 - Temporal. 

Não esquecer, contudo, que uma boa pesquisa histórica precisa do cruzamento entre as fontes e a revisão de literatura. Voltando para o caso do possivel estudo sobre a história social e política de Catu, através da Revista do Centenário da Cidade, seria interessante verificar os sensos do IBGE do período, as Atas e Registros da Câmara e outros registros onde os problemas sociais são verificáveis. 

Voltando ao recorte temático, José Assunção de Barros lança algumas questões interessantes sobre isso. Ele nos lembra que a escolha do tema deve levar em consideração alguns fatores, tais como: o interesse do pesquisador, a relevância do tema, a viabilidade da pesquisa e a originalidade da proposta (BARROS, 2010, p. 25). Mas ele também menciona ao evocar Bennedito Croce que "toda a história é contempoânea", ou seja, que como escrevemos a partir dos olhares do nosso tempo, da nossa época, escrevemos sobre os temas que não só achamos relevante, mas que tem importância na sociedade em que vivemos. Dai por que, pesquisas na parea de gênero, de etinicidade, de poder e política, de identidades são tão facilmente observáveis na produção historiográfica atual. Temas relacionados a "História vinda de baixo" ou melhor dizendo as representações que os atores sociais marcados pela subalternidade inscreveram também na ordem do dia. 

Assim, a escolha do tema é fundamental para o sucesso da pesquisa e entre os critérios de escolha vejo que os principais são afinidade pessoal com a temática e a importância social dada a ele. Escolher bem o tema fará com certeza muita diferença no final das contas.

Resume-se desse terceiro passo que a construção do problema/objeto de pesquisa é feito pelo pesquisador através do questionamento das fontes que ele dispõe na mão. É claro que os interesses de pesquisa são muito importantes nesse período, pois cada um tem seus temas de interesse, tratam-se daqueles que faz com que agente realmente se interesse por um assunto. Mesmo assim, é válido lembrar que a variedade das fontes e  a indetificação das suas potencialidade são fundamentais nesse process. Sem esquecer é claro, de uma leitura e conhecimento histórico prévio sobre o período que se quer estudar.

 

 

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